Um pinheiro imenso, alcançando já o sexto andar, chamava a atenção de quem passava por ali. Tratava-se de uma quadra modelo, cujo paisagismo fora assinado por ninguém menos do que Burle Marx. A tal árvore destoava do restante das plantas e ninguém sabia informar de onde teria surgido.
A síndica deparou-se com um problema sério de infiltração na garagem do prédio e foi obrigada a colocar todo o jardim abaixo - inclusive o tal pinheiro. Da noite para o dia, com as devidas autorizações dos órgãos competentes, foi feita uma limpa no local que, diga-se de passagem, sempre fora impecavelmente mantido pelo condomínio.
Mas a ausência da árvore da família das pináceas, típico de climas frios e de regiões de araucárias, só fez dar leveza à paisagem. Leveza, limpeza, visão e atmosfera como a concebida por Lúcio Costa, idealizador do urbanismo de acessos limpos e fáceis entre os prédios e de beleza singela do gênio paisagista e botânico Burle Marx.
Mas nem tudo são rosas. Eis que surge a mãe do pinheiro para chorar sua derrubada! Em tom lamurioso e sentido, a antiga síndica do prédio protesta, confidenciando que o ganhara há 40 anos e havia então decidido plantá-lo no jardim público: "Após todos estes anos de convivência, sou surpreendida pela sua derrubada, não só foi um golpe na natureza como também um desrespeito a mim que o plantei e durante todos estes anos o vi crescer e ele fazia parte do meu cotidiano".
O mesmo cotidiano que a flagra inadimplente com seus pares, demonstrando desrespeito tão grande quanto o que ela denuncia contra sua pessoa.
3 comentários:
Aquele pinheiro era uma agressão visual que perdurou por 40 anos, um desrespeito ao projeto paisagístico de Burle Marx!
Merece comemoração!
Aquele pinheiro era uma agressão visual, um desrespeito à obra de Burle Marx, além de cafona.
Merece comemoração!
a comemoração já ocorreu a propósito!
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