sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Pinheirinho de estimação

Um pinheiro imenso, alcançando já o sexto andar, chamava a atenção de quem passava por ali. Tratava-se de uma quadra modelo, cujo paisagismo fora assinado por ninguém menos do que Burle Marx. A tal árvore destoava do restante das plantas e ninguém sabia informar de onde teria surgido.

A síndica deparou-se com um problema sério de infiltração na garagem do prédio e foi obrigada a colocar todo o jardim abaixo - inclusive o tal pinheiro. Da noite para o dia, com as devidas autorizações dos órgãos competentes, foi feita uma limpa no local que, diga-se de passagem, sempre fora impecavelmente mantido pelo condomínio.

Mas a ausência da árvore da família das pináceas, típico de climas frios e de regiões de araucárias, só fez dar leveza à paisagem. Leveza, limpeza, visão e atmosfera como a concebida por Lúcio Costa, idealizador do urbanismo de acessos limpos e fáceis entre os prédios e de beleza singela do gênio paisagista e botânico Burle Marx.

Mas nem tudo são rosas. Eis que surge a mãe do pinheiro para chorar sua derrubada! Em tom lamurioso e sentido, a antiga síndica do prédio protesta, confidenciando que o ganhara há 40 anos e havia então decidido plantá-lo no jardim público: "Após todos estes anos de convivência, sou surpreendida pela sua derrubada, não só foi um golpe na natureza como também um desrespeito a mim que o plantei e durante todos estes anos o vi crescer e ele fazia parte do meu cotidiano".

O mesmo cotidiano que a flagra inadimplente com seus pares, demonstrando desrespeito tão grande quanto o que ela denuncia contra sua pessoa.

3 comentários:

Mwho disse...

Aquele pinheiro era uma agressão visual que perdurou por 40 anos, um desrespeito ao projeto paisagístico de Burle Marx!
Merece comemoração!

Mwho disse...

Aquele pinheiro era uma agressão visual, um desrespeito à obra de Burle Marx, além de cafona.
Merece comemoração!

Marília Serra disse...

a comemoração já ocorreu a propósito!