sábado, 5 de julho de 2008

Estresse

Estou de licença médica com labirintite e nem deveria estar escrevendo, portanto tentarei ser breve! Dizem que a labirintite pode ser desencadeada por estresse. Este é sem dúvida o mal do século. Quem tem estresse, pode desenvolver depressão, angústia, pode engordar ou emagrecer, perder cabelo, roer as unhas, ter insônia, problemas cardíacos, dor nas costas, dor de cabeça... a lista de estragos pode ser interminável! E, o pior, os estressadinhos ficam não raras vezes sem paciência, ansiosos, em suma, insuportáveis.

Você já se pegou com pressa, até mesmo de férias ou num fim-de-semana? Já ficou irritado com um carro empacando em sua frente e quis ultrapassar – até mesmo pela direita? Cuidado, isso pode ser estresse...

Tenho observado que as pessoas estão ficando cada vez mais impacientes, intolerantes. Nos mais novos, isso é sinônimo de imaturidade, nos mais idosos, de senilidade. Mas na idade adulta, não há desculpa. Falta de educação, de respeito ao outro, de auto-controle. Gente assim também me estressa...

Mas há os seres provocadores de estresse. Convenhamos que é aceitável ser estressado quando se tem que enfrentar coisas assim... para ilustrar, vou contar sobre a minha quadra. Além do barulho de vizinhos hiperativos e de cães mal-educados e histéricos, enfrento os poréns de se viver numa “quadra modelo”, fantástica para quem a projetou e para quem não mora aqui e apenas faz uso dela. Na quadra há uma escola-classe e uma escola-parque, idealizadas para atender crianças que moram nas redondezas mas, com a decadência do ensino público, hoje atendem apenas crianças cujas famílias não podem pagar escola particular e que vêm de outros bairros. Na quadra há também o teatro da escola-parque e o centro cultural que oferece espaço para exposições e shows, genial para jovens na fase “tenho casa, mas prefiro ficar na rua”.

O estresse não é apenas pelo barulho das buzinas frenéticas e enlouquecidas dos pais e Vans que vêm buscar os moleques na escola. É também da saída do teatro, depois das dez da noite, quando as pessoas vêm buscar seus carros e esquecem que pessoas moram – e dormem – naquele prédio. O estresse provém igualmente do rebuliço da galera jovem que entra e sai do espaço cultural, se instala nos bancos e gramados na frente e atrás dos prédios, bebe, come, canta, grita, ri, chora, passa mal e só vai embora muito tarde da noite, isso quando não sai em disparada à chegada do baculejo da polícia. Legal, pessoal, juventude passa, é preciso se divertir mas não esquecer que pessoas moram ali e têm o direito de querer descansar quando estão em suas casas. Divirtam-se mas respeitem as pessoas – e que esse respeito seja mútuo – e respeitem o local, não deixando os gramados imundos de latas, garrafas, vidro quebrado, papéis, papelão, papelotes, camisinhas... É um espaço de todos, para ser utilizado e não inutilizado.

Esse estresse é passageiro... e o que dizer de estresses permanentes? Quem não se estressaria com vizinhos com problemas auditivos (ou mental) que vêem televisão ou acompanham partidas de futebol aos berros? Ou que batem pregos à meia-noite? Ou que andam dia e noite de sapato de salto?... E como não se irritar com um cachorro que uiva e late até o dono se esgoelar para mandá-lo calar a boca? Esse mesmo cão late para todos que passam na rua e, mais ainda, quando vê outros cachorros... ah cachorrinho que tenho vontade de esganar quando quero dormir um pouco mais pela manhã!!

Nem preciso buscar motivos para me estressar, eles surgem naturalmente... o chato é saber que as pessoas estão tão envolvidas em seus afazeres que nem percebem que incomodam os outros. Será que se importam?

Gostaria que a Lei do Silêncio, que só existe na teoria, como convenção social, fosse ensinada nas escolas e que o respeito ao outro também fizesse parte dos currículos. Para quem não vai mais à escola, poderíamos quem sabe distribuir uma cartilha de bons modos... Não seria fantástico ter a paz estabelecida de dez da noite às dez da manhã?!

Eu mesma me flagro estressando à toa. Perdão, leitor, se trouxe ao blog este “recito de uma estressada”! Vejo, observando ao meu redor, que a saída talvez seja ficar indiferente, não ligar para nada nem ninguém. Assim, parece que se sofre menos. Como já dizia um dos personagens do espirituoso Fernando Sabino: “não analisa, não!”

Volto ao meu repouso que poderia ser bem mais prazeroso e efetivo se morasse numa casa sem vizinhos grudados e arredores tão turbulentos... Viver em sociedade é um exercício – numa sociedade sem regras, sem educação, um exercício de paciência!

Brasília, 2005
2008: a falta de educação generalizada lamentavelmente continua...

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