sábado, 5 de julho de 2008

Sem Parágrafos, sem coesão, com alguma razão - haverá solução?

27 de janeiro de 2006 – ano de eleições

Tentei fazer poesia mas hoje meu humor está como o mar quando não está para peixe: turvo, agitado, com ressaca, feio. Feio como o céu quando fecha de repente, formando nuvens pretas e pesadas e desabando “naquele” pé d’água. E a água já caiu – hoje e ontem – ao assistir histórias que me tocaram na televisão. Uma das histórias era real, de uma família que passou uma semana na África, descobrindo a cultura do povo e se misturando a ele, tentando aprender algo sobre o terceiro mundo. O que me emocionou foi ver um garotinho americano, mimado, reclamão, rebelde, se apegar a um adulto da tribo visitada e descobrir sozinho o que ele descreve, a um dado momento, deitado, acolhido no colo do novo e enorme amigo, como sendo as únicas três coisas realmente essenciais na vida: água, comida e abrigo. O menininho partiu aos prantos ao ter de se separar do amigo que lhe dava atenção, carinho, lhe falava e o ouvia. No começo da viagem, quando o menino estava indócil com a nova e dura realidade à sua volta, com o sol torrencial, a falta de água, com a comida escassa, as condições precárias do local, ele xingava e agredia a todos, ao que os pais diziam: “damos tudo a nossos filhos achando que estamos fazendo o bem, quando, na verdade, o que estamos fazendo é criar pequenos monstros.” Aos poucos, o menino foi se acalmando, amolecendo e pareceu ser o que mais assimilou a sensibilidade e a simplicidade das pessoas em volta, talvez por ter menos idéias pré-concebidas e ter tido menos tempo para incorporar paradigmas da sociedade de origem. Os outros adaptaram-se mais rapidamente às condições adversas do local mas o sentimento de amizade descoberto pelo guri pareceu muito mais forte, intenso. Intenso também foi meu sofrimento, assistindo a um filme hoje à tarde. Logicamente encontrei o filme pela metade, como todos os filmes que achamos em meio a tantos canais sem sal da tv a cabo. A história – que deveria ser grafada como ‘estória’ pela ficção da trama – falava de reencarnação, de acasos – que muitos dizem não existir – de pessoas reencontrando o amor em si mesmas, redescobrindo o amor no outro, repensando os encontros e desencontros vividos ao longo da existência. E tudo isso me remete à idéia de tempo, à agonia que dá em pensar que não aproveitamos os momentos como deveríamos, não dizemos tudo o que sentimos nem nos permitimos viver e sentir tudo o que poderíamos. Minha preguiça física – que dizima qualquer possibilidade de reagir psicologicamente, condena-me a uma inércia sem precedentes em minha história que já contabiliza, afinal de contas, mais de um terço de século! Tudo isso para dizer que estou de mau-humor – ou será que estou triste? Estou tão de mau humor (com ou sem hifen? – e hifen com ou sem acento?) que divago num formato impossível de texto, sem pausa, sem parágrafo, “pirante”! A propósito, Saramago com sua genialidade que me perdoe mas não consigo me concentrar em seu estilo rebuscado e complexo de escrever... e eis que uso pela primeira vez nesta página os três pontinhos... segunda vez agora... - e terceira -, para expressar não hesitação ou incerteza mas para admitir que gosto mesmo de usá-los. Esta semana me disseram que uso-os demais... é como se, usando-os, eu estivesse parando o que digo para meditar e dando, assim, ao leitor, a possibilidade de pensar também ou de tentar captar minha maneira irônica, sarcástica, por vezes inconformada, chateada com as coisas deste nosso lindo mas corrupto mundo... confesso que não sou ninguém sem os danados dos três pontinhos... e hoje eu me sinto ninguém. E o ponto após a afirmação é para não gerar dúvida alguma e não dar o que pensar. E falando em pensar, sempre que paro para pensar na podridão do poder, da ganância por mais e mais dinheiro e influência, nos sentimentos nefastos que movem pessoas que administram mal as verbas públicas e legislam em causa própria – causa de quem? enfim, sempre que paro para pensar na causa de nossos males fico triste e de mau humor. Sem hifen, sem acento e sem fé. Mas isso há de mudar! Vamos eleger uma mulher para presidente para ver se a sensibilidade muda alguma coisa!! Será que tenho coragem de me candidatar??

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