sábado, 5 de julho de 2008

Ratos

Onde moro tem uns bichos que viram as latas de comida, esvaziam todas as lixeiras, mijam e defecam na rua. De vez em quando, vemos um ou outro fazendo sexo. Quando bate a ventania, sobe o cheiro de podre, de sujo... mas algumas particularidades os distinguem de simples roedores: são muito maiores, andam sobre duas patas, falam, gritam, cantam, bebem álcool, fumam, se drogam, vendem droga, xingam, brigam, matam.

Matam sim... outro dia, viram dois deles passarem com grandes pedras na mão, dizendo “vamos lá acabar com ele”. No dia seguinte, há algumas quadras daqui, um sujeito foi encontrado morto. Mas crimes assim não alteram os números: as fêmeas sempre estão cercadas de crias e novamente prenhes...

Anteontem, eu passava por trás da comercial para entrar numa loja cuja porta fica virada para os fundos quando, a duzentos metros dali, cinco moleques entre os doze e os quinze anos e um rapaz bem mais velho se amontoavam fechando um círculo. No meio deles, uma garrafa. Um dos lojistas da rua, com quem comentei o que vi, me explicou que aquilo na garrafa é solvente. Que não se usa mais cheirar cola de sapateiro pois é muito caro. Ao que dizem, o solvente dá um barato ainda mais forte mas, em contrapartida, faz um estrago danado no cérebro...

Há tempos, minha quadra era conhecida como quadra-modelo da cidade pelo planejamento urbanístico e pelo projeto paisagístico. Ainda vemos turistas procurando o que já foi tido por belo. De repente até ainda é belo aos olhos dos que não convivem com esse quadro de horror... mas para nós, moradores, infelizmente não tem mais graça passear e admirar certos ângulos enquanto a sensação é de medo de se deparar com alguém bêbado ou drogado à procura de dinheiro fácil. Não tem graça nenhuma pagar impostos e não os ver investidos onde moramos; não ver limpeza, não ver ordem, não ver progresso, não ver respeito.

Acabamos com medo e nojo pelo cheiro dos canteiros, dos gramados e das calçadas. E raiva pela bagunça, pelo barulho, pela sujeira e pelo descaso. Pergunto-me onde andarão os homens públicos e suas pseudo políticas sociais... onde andará o Senhor distribuidor de lotes... Por que não surge um Senhor distribuidor de empregos? de postos de saúde? de escolas? de educação? de noções básicas de higiene? de moral? de caráter? de cidadania? de responsabilidade? de vergonha na cara?

Enfim, serão homens? ou ratos...?

Brasília, 2006.

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